De todos os desafios que as crianças têm na vida, os medos que enfrentam
estão entre os mais difíceis de superar. Como explicar o medo do escuro, de
ficar sozinho, aquele friozinho na barriga antes de viver algo novo? A
literatura infantil aborda bem isso, como no livro A Princesinha
Medrosa, de Odilon Moraes, que a Editora Cosac Naify acaba de relançar e
cujos desenhos ilustram esta reportagem
Por Bia Reis
Um belo dia, o boneco que sempre
esteve na prateleira se transforma em um terrível bruxo. O escuro, que até agora
embalava e garantia um sono tranquilo, vira inimigo e o grande responsável
pelos fantasmas e monstros que invadem o quarto no meio da noite. E seu filho
passa a temer lobos e vampiros e até roupas penduradas na cadeira.
A situação parece familiar? Saiba que é mesmo.
Quase todas as crianças sentem medo de coisas e pessoas em algum momento. E,
assim como acontece com a gente, alguns temores são intensos e nos deixam mais
apreensivos, enquanto outros não passam de um “medinho”. O temperamento da
criança e a nossa habilidade para tratar do assunto influenciam a maneira como
ela lida com seus temores. Por isso, faça a primeira coisa que você diria a
ela: mantenha a calma.
O ser humano convive com o medo desde o nascimento
e por questão de sobrevivência: afinal, é um estado de alerta. Por isso,
começamos a senti-lo tão cedo. Os bebês podem se assustar com barulhos e luz
forte. Depois, por volta dos 7 ou 8 meses, podem temer pessoas, como o
pediatra. Se a gente fica apreensivo em uma consulta médica, imagine um bebê
que não se lembra de nada e ainda tem de ficar peladinho e se deixar ser
examinado?
É por volta dos 3 anos, porém, que as crianças
costumam ficar mais medrosas. Com a imaginação a todo o vapor, elas confundem
fantasia e realidade, e os temores, então, tornam-se intensos, apesar de
abstratos. Fantasmas e lobisomens entram em cena. E você passa a ouvir aqueles:
“Mas é de ver-da-de!”. Um medo clássico dessa fase é o do escuro, e é fácil
entender o porquê. Imagine você, pequeno, num quarto escuro, pensando em lobos,
bruxas e monstros... Assustador, não? A partir dos 5 anos, surgem os medos
reais, como o de ser esquecido na escola, e, um pouco mais para a frente, o da
morte. Há também os pavores desencadeados por traumas, que podem aparecer em
qualquer idade. Se seu filho for mordido por um cão, vai querer evitar qualquer
cachorro.
E existem ainda os medos de situações que as
crianças aprendem com os adultos, como o pavor do dentista ou a expectativa de
ser assaltado. Atenção com o que for comentar perto delas. Que tal evitar falar
sobre a terrível dor que sentiu quando tratou um canal? E o mais importante:
jamais crie outros medos, como ameaças em nome de educar. Afinal, o papel dos
pais é o de proteger e ajudar a crescer.
Lobo existe, sim
Dizer “Pare com essa bobeira e volte a dormir no
seu quarto porque lobo não existe”, além de crueldade, é perda de tempo. “O
medo na infância deve ter um tratamento inteligente pelos adultos. É preciso
ajudar a criança a identificá-lo, examiná-lo e enfrentá-lo, sem fingir que é
algo pequeno, porque, para ela, tem uma dimensão maior”, afirma o filósofo e
educador Mario Sergio Cortella.
Cuidado para não transformar o medo passageiro em
algo duradouro. Se seu filho está com medo de entrar no mar, brinque na areia
para que vá se acostumando. Quando você menos esperar, o temor passará. Se o
barulho do aspirador o amedronta, deixe para usar o aparelho quando ele não
estiver presente.
A melhor estratégia é dar espaço para que a criança
expresse seus sentimentos. Ao falar sobre seus temores, ela aprende a conviver
com eles, a controlá-los, para, enfim, libertar-se. Explique que o medo é um
sentimento normal, assim como a felicidade, a tristeza e a raiva. Depois,
lembre o que assustava você quando criança e conte para seu filho. Ele se
sentirá mais acolhido e, aos poucos, perceberá que conseguirá se livrar do medo,
assim como você.
Além da literatura, os programas infantis também
podem dar uma mão. “Eles fazem as crianças vivenciar seus medos sem serem
expostas diretamente”, alerta Âmbar Barros, coordenadora do núcleo
infanto-juvenil da Fundação Padre Anchieta, que preside a TV Cultura e a TV Rá
Tim Bum.
Apesar de naturais, os temores das crianças não
podem limitar o convívio social delas. “Quando a criança modifica seu
comportamento, se fechando no quarto, por exemplo, ou muda a rotina para fugir
de algo que a apavora, é hora de procurar ajuda”, afirma a psicóloga infantil
Patricia Spada, pesquisadora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Se
esse não for o caso de seu filho, respire fundo e tenha muita paciência e
compreensão. O medo do lobo e dos trovões vai desaparecer aos poucos... para
dar lugar a novos medos! Afinal, é assim que aprendemos a viver.
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filho a perder o medo
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