Depois de 38 anos
se dedicando às tarefas do lar, a são-bernardense Severina Alves de Oliveira,
64 anos, resolveu procurar emprego. Seu marido, metalúrgico aposentado, sempre
sustentou a casa, mesmo depois de pendurar as chuteiras. Depois de criar os
filhos, porém, ela começou a sentir que precisava de um desafio: trabalhar fora
de casa.
Sem que o marido
soubesse, e com a ajuda da filha, começou a procurar emprego, e não demorou
muito a encontrar. Desde o fim do ano passado ela trabalha como atendente de
uma pizzaria no Shopping ABC. "Meu marido se assustou bastante, não queria
que eu trabalhasse fora nesta altura do campeonato. Mas eu expliquei que queria
me sentir mais importante, e que o trabalho ajudaria", conta Severina.
"Antes de me casar eu já tinha trabalhado com o público, em uma boutique
no Shopping Iguatemi, em São Paulo. E eu adorava. Parei porque naquela época as
mulheres casadas viviam para cuidar do lar. Mesmo assim, sempre ajudava,
voluntariamente, em um hospital, pois não conseguia ficar parada",
conta.
A atendente da
terceira idade conta que vai se aposentar em dois anos, pois seu marido sempre
pagou a contribuição facultativa (destinada a quem não tem ocupação
trabalhista, como donas de casa e estudantes) do INSS (Instituto Nacional do
Seguro Social). "Agora, eu mesma pago o meu INSS, já que tenho registro em
carteira." O primeiro passo foi montar um currículo. Para quem tem
mais de 60 anos e deseja ingressar no mercado de trabalho, esta é exatamente a
primeira dica da psicóloga Marcia Luz, autora do livro Agora É Pra Valer.
"É importante concentrar as informações em uma página, no máximo duas, e é
essencial ressaltar, além da formação e da experiência profissional, seus
diferenciais, como caráter, ética e confiabilidade. E a dica vale tanto para
quem trabalhou em diversos lugares e precisa selecionar os dados como para quem
nunca trabalhou."
SEGUNDO ROUND
- Com o avanço da medicina e o aumento da expectativa de vida, atualmente
em 70,6 anos para os homens e 77,7 anos para as mulheres, conforme o IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), além da maior oferta de
tecnologias para protelar o envelhecimento, a psicóloga afirma que o conceito
de terceira idade mudou. "Na época dos avós, eles viviam até os 50 anos.
Dos pais, até os 60 anos, Hoje, não dá para se aposentar aos 60 anos e ficar
sem fazer nada. Se vai se aposentar aos 60 e viver aos 90, serão 30 anos de
vida com muita disposição ainda. As pessoas sentem a necessidade de fazer algo
que dê sentido à vida delas. Sem contar que não há plano de previdência que dê
conta do aumento expectativa de vida, que cresce mais ou menos a cada dois
anos."
A vida profissional
depois dos 60 anos pode ser bem diferente da que vigorou dos 20 aos 60. Marcia
incentiva que é a hora de fazer o que realmente se gosta. "Para isso, é
importante fazer cursos, ler bons livros e descobrir a sua expertise. Durante
os cursos, inclusive, além de se atualizar, é importante aproveitar para
expandir sua rede de relacionamentos e até descobrir futuras parcerias. Não é
dentro de casa, vendo televisão, que possibilidades de negócios vão
surgir." Muita gente, ao receber a rescisão de trabalho, aproveita
para se aventurar no mundo empreendedor. A psicóloga orienta que é essencial,
antes de aportar os recursos, buscar bons projetos em sites que expõem ideias
inovadoras em busca de financiamento. O Sebrae também pode ajudar.
Se o intuito for
voltar a ser assalariado, é preciso cadastrar seu nome nos bancos de talentos
das empresas, avisar a sua rede de relacionamentos que está em busca de
oportunidade e se interar com novidades tecnológicas, como o Facebook. "No
início, aceite salário menor ou vaga temporária. Mostre que tem diferencial,
oferecendo muito além do seu contrato de trabalho, que as oportunidades
aparecem."

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