Num mundo
onde as pessoas se sentem angustiadas com o desejo de agradar e serem
agradadas, percebemos quão distante está a verdade do que realmente somos
diante de Deus e diante de nós mesmos.
Como nós reagimos diante disso? Aceitamos ou
não como somos ou quem somos? E de que maneira isso acontece?
“Onde está o
Espírito do Senhor, lá está a liberdade” (cf. 2Cor 3,17). Deus é realista e
deseja realizar sua obra em nossa vida na verdade, não em uma ilusão de quem
somos ou como somos. A tentativa de negar ou vencer nossas fraquezas e
limitações por nós mesmos é uma ilusão porque o próprio Jesus nos disse: “Sem
mim nada podeis fazer”.
Deus me ama
como sou
Uma das formas mais eficazes de deixar a graça
de Deus agir em nós é dizer “sim” ao que somos e às situações que enfrentamos
dentro e fora de nós. Isso nos faz acreditar que a pessoa que o Pai ama não é a
que eu irei me tornar ou a que eu desejo ser, mas a pessoa que eu sou. Deus não
tem as expectativas ilusórias que nós temos de amar o que é ideal ou virtuoso,
Ele ama de forma real, aliás, desconsidero que seja amor tudo que escape da
realidade. Perdemos muito tempo tentando corresponder a modelos ou nos
lamentando de nossos limites e fraquezas, ou porque poderíamos ser menos
feridos, menos complicados... isso só faz retardar a belíssima obra que o
Espírito Santo quer realizar em nós.
Muitas vezes bloqueamos a nossa intimidade com
Deus recusando a nossa pobreza, fragilidade, debilidade, ao invés de nos
reconhecermos pequenos, e sem nos darmos conta, esterilizamos a ação do
Espírito Santo.
Um problema decorrente disso é que, quando não
conseguimos acolher a nós mesmos, também não acolhemos os outros – e perdemos
tempo reclamando por ele não corresponder às nossas expectativas.
Essas atitudes e sentimentos são muito sérios
porque revelam uma não aceitação de nós mesmos muito forte, que tem raízes em
uma falta de confiança e fé em Deus. Aceitar-nos como somos, com nossa pobreza
e limites, não significa acomodar-se, tomar uma atitude passiva ou preguiçosa
diante da vida. Ao contrário, já que o próprio Evangelho nos chama a sermos
perfeitos (cf. Mt 5,48), é preciso querer melhorar, crescer, superar,
progredir... é indispensável, porque deixar de progredir é deixar de viver! Mas
tudo isso só acontece de forma equilibrada se nos aceitamos e reconhecemos
necessitados de Deus.