Quando uma
mulher engravida, o pai da criança torna-se um mero coadjuvante. É ela quem faz
acompanhamento pré-natal e recebe todos os mimos pela vida que está gerando.
Mas uma nova proposta adotada pela Secretaria de Saúde promete mudar essa
realidade. Está em fase piloto o Projeto Pré-natal do Parceiro, em que o homem
é levado para esse universo de cuidados com a saúde para a chegada do bebê.
O projeto,
previsto na Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem, instituída
pelo Ministério da Saúde, está em fase inicial no DF, funcionando nas UBSs 11
do Gama e 4 de Santa Maria. "Esse estímulo da participação do parceiro no
pré-natal na Estratégia Saúde da Família (ESF) também favorece a aproximação
dos homens com os serviços de Atenção Primária, tendo em vista a baixa procura
deles pelo cuidado à saúde", observa a coordenadora de Atenção Primária,
Alexandra Gouvêa. Ela informa que em breve o modelo será levado para todo a
rede primária de saúde pública do DF.
Experimentando
a paternidade pela segunda vez, o analista de sistemas Jonathan de Almeida
Muribeca é um dos participantes do projeto. Acompanhado da esposa, Naara
Barbosa, grávida de 14 semanas, ele foi à primeira consulta pré-natal em Santa
Maria. "É um projeto importante porque trouxe a visão do pré-natal da
família e não somente da gestante. Isso contribui para uma gestação
saudável", conta ele, que já tem um menino de seis anos. "Na primeira
gravidez, minha única preocupação era trabalhar e ser o provedor da casa",
relembra.
Para Naara
Barbosa, chamar o pai para participar deste momento é importante não somente para
que ele cuide da própria saúde, mas também pelo papel que desempenha na
família. "Mostra que essa responsabilidade não é só da mãe, que eles
também precisam ter isso", destaca.
CAPACITAÇÃO
- As equipes de saúde da Região Sul de Saúde, que abrange Gama e Santa Maria,
ainda estão em fase de treinamento para essa nova estratégia. Porém, o processo
todo é bem simples. "Quando a gestante vai marcar a primeira consulta, já
é agendada uma para o parceiro também. E na própria caderneta da gestante tem um
espaço para as anotações referentes à saúde do homem", observa a
enfermeira da UBS 4 de Santa Maria, Maria Abadia Leite.
No parceiro,
segundo Abadia, são feitos testes rápidos de HIV, Sífilis, hepatites B e C,
além de solicitados exames de hemograma, glicemia, triglicerídeos e
lipidograma. "Também temos oficinas no primeiros e terceiro
semestres", ressalta a enfermeira.
A medida,
além de aproximar o parceiro do universo da gestante, ainda visa aumentar a
procura do homem pelos serviços de saúde. Pesquisa do Ministério da Saúde feita
com seis mil homens, cujas parceiras fizeram parto no SUS, mostra que 1/3 deles
não têm o hábito de ir aos serviços de saúde e mais da metade (55%) disseram
que nunca precisaram ir.
IMPORTÂNCIA
– Se para o homem, a participação no pré-natal é importante, para a mulher ela
é imprescindível. E com a conversão do modelo de atenção primária para a
Estratégia Saúde da Família, este acompanhamento passa a ser ainda mais de
perto.
"O
vínculo estabelecido entre os profissionais e as gestantes/família é
imprescindível para a adesão delas ao pré-natal, contribuindo para diminuir a
morbidade e mortalidade relacionadas à gravidez", destaca Alexandra
Gouvêa. "Fatores socioambientais e familiares influenciam frequentemente
na condução da gestação, levando a complicações. A equipe de saúde da família
tem maior capacidade de identificar riscos e agir na prevenção de
doenças", complementa.
Passando
pela terceira gestação, duas delas acompanhadas em centro de saúde tradicional
e esta última no modelo ESF, Flaviana de Sousa Santos fala das diferenças nos
atendimentos. "Fui bem acompanhada em um centro de saúde no Gama, por um
ginecologista, mas nem se compara ao que tenho hoje. As meninas da equipe vêm
até a minha casa, no meu trabalho, para saber como estou, se tive alguma
intercorrência", conta, referindo-se aos profissionais da equipe de
Estratégia Saúde da Família 11, da UBS 4.
Ela conta
que no começo da gestação, ficou um pouco preocupada por não encontrar a figura
do ginecologista, mas sim de um médico de família na equipe. "Estava
acostumada. Mas com o tempo, a gente vai ficando segura em ver que eles sabem
trabalhar, que estudaram para isso", diz Flaviana, que está com 34 semanas
de gravidez.
A
coordenadora de Atenção Primária da Secretaria de Saúde frisa justamente este
acompanhamento gestante/família. "O atendimento deixa de ser apenas do
médico, no caso médico de família e comunidade, para ser de toda a equipe, de
modo a suprir as diversas necessidades da gestante nesse período, compreendendo
seu contexto social e familiar", ressalta Alexandra.
Além disso,
a mesma equipe acompanha o indivíduo e sua família durante as diversas fases da
vida e para todas as condições clínicas que necessitem de atendimento, com a
longitudinalidade do cuidado. O mesmo médico e enfermeiro vão acompanhar a
mulher e sua família antes, durante e após a gestação.
Que o diga
Bárbara Costa, mamãe da Isabelly há apenas 23 dias. "Fiz todo o pré-natal
com uma mesma equipe e depois que minha filha nasceu, eles vieram até minha
casa, me deram assistência, inclusive, na amamentação, pois tive
dificuldades", conta, ressaltando que o marido também tem sido acompanhado
pela equipe de saúde. "Ele fez exames e acompanhou minhas consultas de
perto. Isso fez toda a diferença", destaca.
RISCO -
Alexandra Gouvêa explica que no novo modelo de atenção primária, a gestante é
acompanhada por equipe formada por médico de família, enfermeiros, técnico de
enfermagem e agente comunitário de saúde. "Eles estão plenamente
capacitados a realizar a condução do pré-natal de risco habitual, encaminhando
apenas os casos que necessitam de uma avaliação do médico especialista focal em
ginecologia e obstetrícia por identificar em um risco durante a gestação. Todo
pré-natal segue os protocolos assistenciais para que haja uma melhor condução e
a inserção na linha do cuidado materno infantil", explica.
A qualquer
sinal de possível complicação, este encaminhamento já é feito. A gestante
Flaviana de Sousa, por exemplo, teve um pequeno sangramento no início da
gravidez e foi logo encaminhada para o Hospital Regional de Santa Maria.
"Fui consultada por um ginecologista, fiz exames e foi constatado que não
era nada demais. Depois, peguei os resultados e levei para a equipe que me
atende na UBS", relata.