quarta-feira, 22 de agosto de 2012

O que falta dentro de você?



A violência, dentro de um relacionamento, não se dá só de forma física. Escutamos muito falar sobre mulheres que sofrem de abuso por parte de seus maridos, noivos e namorados, mas pouco sabemos sobre a raíz disso tudo;  que vai muito além da psicopatia ou do comportamento agressivo de alguns homens.
Sempre me questionei sobre como uma mulher pode suportar tantas coisas ruins calada justificando cada dor sofrida com amor. Sempre me questionei também quanto somos capazes de nos anular, quão grande é o nosso altruísmo e até que ponto o problema está em nós e não no outro. Uma mulher pode sofrer de violência e não estar, sequer, ciente disso. Falo aqui daquele tipo de situação velada, controladora, sútil. Algo que se sabe, no íntimo, que não está certo, mas que por faltar referências do que é bom, opta-se por ficar.
A agressão começa com as proibições, com o veto dos pequenos prazeres, com o machismo, talvez. Esse que em pleno século XXI é socialmente bem aceito e até apreciado pela mulherada. É o batom que não pode ser vermelho, as unhas, a saia curta, é o passeio com as amigas que se é impedida de ir. É quando os limites vem sempre sem justificativa, sempre unilaterais: ele tudo pode, você não. Ele viaja, bebe e vai para a balada sozinho, você não. Ele te trai, te desrespeita, grita. Você nunca, jamais, você não pode. Porque a função do homem é comandar a mulher, como um bicho. Como se o amor, por si só, já não estabelecesse algumas regras.
Mulheres que se amam de menos. Que acham que nunca são suficientemente boas para alguém ainda que lindas, inteligentes e espirituosas. Mulheres que aceitam o descaso e que ainda assim não medem esforços para agradar o outro mesmo que isso signifique fazer algo que as desagrade. Mulheres que não aparentam ser frágeis, mas que assim se sentem. Que temem a idade, a solidão, os sonhos que não se concretizarão. Que esperam, que toleram, que preferem calar porque tem medo de argumentar, que preferem consentir porque se sentem acuadas; porque acham que estão ganhando em perder, ao invés de se perder um pouco por aí para se encontrar…
As mulheres que sofrem de violência psicológica sempre acreditam em um novo começo ainda que já tenham havidos 2, 5, 10 inícios fracassados, doloridos, desrespeitosos.Não enxergam a gravidade do que vivem, não conseguem se libertar daquilo que se acostumaram a estar presas.
Há quem diga que existem mulheres que gostam de apanhar, eu discordo. Acho que existem mulheres que não se sentem bem a sós, que acreditam que um relacionamento bom é aquele em que o outro demonstra que se importa pelos impedimentos, pela repressão. O amor, afinal, não é uma prisão voluntária? Não é perdoar e colocar o desejo do outro acima do seu? Não tem a ver com dedicação, submissão e com um pouquinho de dor? Sim e não. Na medida do que é saudável.
Que me desculpem as mulheres que insistem nesse destino. Auto-estima, para mim, é fundamental.

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